A comida japonesa caiu no paladar do rio-pretense. A procura por iguarias como sushi, sashimi e temaki é tão grande que ocorreu o improvável em Rio Preto: existem mais restaurantes especializados na culinária do Japão do que as tradicionais churrascarias - 25 a 21. Salmão, hashi (palitinhos usados para comer) e saquê começam a vencer, com sabedoria nipônica, o duelo contra a picanha, espeto e cerveja.
O sucesso é motivado pela feliz combinação entre pratos com fama de saborosos, leves e nutritivos, pelo charme dos ingredientes e jovens em busca de novidade. Os empresários investem cada vez mais na instalação de novos pontos, serviços diferenciados e opções de venda, do self-service ao rodízio. Atendem juntos pelo menos sete mil clientes por mês.
Em dois anos, dez novos estabelecimentos, sobretudo temakerias, abriram as portas. Apesar da “invasão”, o mercado do churrasco vai bem. Mesmo assim, ninguém quer perder ponto para a concorrência e, assim, se rende à novidade. De forma tímida ou ostensiva, a maioria dos templos da carne disponibiliza ao menos sushi, o prato mais popular. Mas tem quem foi mais longe e até contratou sushiman.
O fato é que a comida japonesa desperta curiosidade e não tem meio termo: causa amor ou ódio. Quem vence o estranhamento da primeira porção, geralmente volta e se torna consumidor fiel. Assim ocorreu com a vendedora Sabrina Brito, 25 anos. Ao menos uma vez por semana, ela come pratos à base de salmão, a vedete dessa culinária, e arroz. “É saudável e saboroso. Aprendi a gostar de tanto os amigos falarem.”
Sushis e sashimis já estão entre suas preferências quando senta à mesa. Ao lado, é claro, das massas. Só não come com mais frequência por um motivo: o custo. O quilo no self-service pode custar até R$ 70. Os comerciantes buscam inovar para manter clientes como Sabrina e conquistar outros. Paulo e o filho Rafael Vieira abriram o Bushido, que vende em torno de mil unidades de sushis por refeição, entre outras iguarias típicas. O cliente entra, escolhe e paga. Tudo rápido e sem complicação. Fast food da vida moderna. “O segredo, na realidade, é a qualidade dos produtos”, conta Paulo.
Um dos restaurantes mais novos de Rio Preto é o Tantô. Funciona há três meses na Redentora, que se tornou espécie de filial da Liberdade, berço da comunidade japonesa em São Paulo. O bairro rio-pretense abriga sete estabelecimentos japoneses. A concorrência, no entanto, não preocupa. “Tem espaço para todo mundo. Caiu no gosto da juventude”, afirma Danilo Admek. Com Marcelo Verdi, ele criou o restaurante especializado em temaki, vendido de R$ 10 a R$ 15 a unidade. “Tinha bastante em São Paulo. Aqui, na cidade, ainda é novidade. Está indo bem.”
Há cinco anos no mesmo bairro, o Mirai atende a um público diferenciado, com tempo para esperar o preparo de pratos mais elaborados. O lugar tem espaços individuais e vista panorâmica. E transforma o simples ato de comer em oportunidade para fazer negócios, comemorar data especial e encontrar os amigos. “Não dá para comer essa comida com pressa”, diz a gerente da casa, Sônia Aquiles.
Os restaurantes conquistam também público da região. O casal Henrique Junqueira, 32 anos, e Luana Novaes, 30 anos, mora em Ilha Solteira e aproveita as visitas a Rio Preto para comer comida japonesa, duas vezes por mês. “Comecei por influência de uma tia. Faz bem para a saúde”, afirma ele.
Já a comerciante Elaine, 34 anos, e sua mãe, Satie Maieto, 61 anos, são de Lins e adoram esse tipo de alimento. Na cidade em que moram, não há restaurante japonês. Entre um e outro sushi, Elaine explicou a paixão. “A gente vem para passar pelo médico, fazer compras e comer bem. Adoro. Volto levinha. Uma delícia.”
Churrascaria tradicional contrata sushiman
O paladar do rio-pretense mostra que é possível, sim, combinar o tradicional churrasco com comida japonesa. A churrascaria Brasa Viva contratou sushiman por livre e espontânea pressão da clientela. A carne é o prato principal. Mas foi necessário se adaptar. Enquanto o profissional prepara sushis, sashimis e temakis em uma ilha japonesa no próprio salão, garçons se revezam para abastecer os pratos com as carnes mais variadas.
“Antigamente, era só churrasco. Mas hoje o cliente exige comida japonesa, peixes e saladas”, explica o gerente Luciano Bertuol. No Gramadão sempre tem uma bandeja com iguaria japonesa. “O pessoal busca sempre novidade. Mas o principal é ter carne com qualidade. O público é fiel”, diz o gerente, Cláudio França Souza.
Um grupo com seis securitários almoça uma vez por semana em churrascaria. É oportunidade para comer bem, colocar o papo em dia e esquecer um pouco do trabalho. “O bom é a variedade e rapidez no atendimento”, conta Iramil Araújo, 52 anos. Vanderlei da Silva, 41 anos, é mais direto. “Gosto porque tem muita carne. Isso é importante.”
Pierre Duarte
Doze dos 16 pernambucanos que deixaram a cidade natal de Bom Jardim para ganhar a vida em Rio Preto: funcionários do Mirai Japonês com pitada de tempero nordestino
A comida japonesa servida em Rio Preto tem pitada do tempero nordestino. O restaurante Mirai conta com 16 funcionários de Bom Jardim, no agreste de Pernambuco. A maioria não conhecia nada da culinária do Japão, mas aceitou o desafio de trabalhar em setor estranho em busca de uma vida melhor. Com muito trabalho e dedicação, chegaram lá e se tornaram ninjas pernambucanos.
Na entrada do restaurante, existe uma enorme bancada de madeira onde a clientela tem a oportunidade de observar o nascimento dos pratos. O tradicional sotaque domina o espaço. Só que de forma surpreendente. As gírias, palavras e construções típicas são substituídas por termos complexos do país asiático.
Quem puxou a fila foi Edmilson de Aguiar Silva, 31 anos. Há uma década, ele foi trabalhar na unidade do restaurante em Ribeirão Preto. Começou de baixo, mas com toda dignidade. Lavava prato. Depois, passou a preparar sobremesa. Pouco a pouco, conquistou novos postos, até atingir o mais alto. Há cinco anos, é chef do estabelecimento rio-pretense. Organiza a cozinha e a produção.
Paralelamente ao trabalho, Silva indicava os conterrâneos de Bom Jardim, cidade com 40 mil habitantes, que sobrevive à base da agricultura e fica a 2,6 mil quilômetros distante de Rio Preto. Primos, amigos e conhecidos foram recrutados. Alguns desistiram, muitos ficaram. “Tem que estudar e trabalhar bastante.” E, como diz, aprender a gostar da comida.
Leandro Gomes, 24 anos, está em Rio Preto desde 2008. É garçom e desenvolveu um talento: memoriza o prato preferido de cada cliente. Nem sempre foi assim. “Trabalhava na agricultura e tinha medo de japonês. Não conhecia nada da culinária. Todos os colegas vieram sem experiência.” Gomes já está no lucro. Em Rio Preto, casou e é pai de dois filhos. Gosta da comida japonesa. “É um espetáculo. O mais difícil foi comer sashimi. Mas já me acostumei.” Claro que não esquece das iguarias de Pernambuco, como cuscuz e buchada de bode.
O mais novo da turma é o garçom Luciano Sebastião da Silva, 19 anos, há um mês na cidade. Ele já havia experimentado comida japonesa no Recife, onde trabalhou. E não estranhou quando chegou. Tímido, conta que gostou de Rio Preto. “A cidade é bonita.” Tem planos para conquistar muita coisa. Quem sabe, com ajuda da comida japonesa.
É o nicho mais aquecido hoje
A culinária japonesa é o nicho da gastronomia mais aquecido atualmente em Rio Preto. Ainda sim, há espaço para os tradicionais tipos de culinária e novidades. É o que afirma Paulo Silva, presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares. Segundo ele, para abrir um estabelecimento de sucesso é necessário oferecer produtos com qualidade e preço, além do indispensável bom atendimento. “O rio-pretense sai muito para comer, tanto no jantar quanto no almoço. A cidade é grande e tem mercado.”
Os restaurantes japoneses têm conquistado espaço, diz Paulo, porque vendem comida saudável, o que é procurado hoje, principalmente pelos jovens. Esses estabelecimentos, em regra, são menores, especializados e atendem a um público específico.
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